“SEGUE O BAILE - VIDA QUE SEGUE”
- Fernando Polignano
- 21 de fev. de 2022
- 3 min de leitura
Que tal desenvolver a capacidade de não se enganchar com provocações que tiram você do seu eixo? É possível ser mais ‘liso’...

Há alguns anos passados, pude participar de uma vivência terapêutica intensa, que durou nove dias, trabalhando aspectos da vida, desde a infância e os tais registros de família, até o tempo adulto. Muito bom, com resultados concretos e uma verdadeira ‘limpeza de porão’, assim como de resgate de muitos tesouros que por vezes ficam eclipsados por fatos e memórias negativas ou desagradavelmente marcantes.
Dentre muitas coisas boas naquela experiência, uma imagem usada pela facilitadora em um dos momentos me marcou, e a considero uma chave poderosa: ela descrevia que algumas pessoas (talvez muitas...), tinham como que ganchos pelo corpo, o que me remeteu ao famoso quadro de Salvador Dali, que mostra uma mulher de cujo corpo saem gavetas. Qual era ideia? A facilitadora expunha a questão de termos como que ‘ganchos’ em nós, e que outras pessoas e situações lançam em nós – por palavras e ações - cordas com argolas que em nós encontram onde enganchar. Uma vez feita a conexão, ao ser puxada, aquela corda abre uma gaveta de conteúdos, em geral negativos, reações primárias e defesas que levam a um contra-ataque.
“Sejamos mais lisos’, dizia a facilitadora. Boa proposta essa! A questão é o ‘como’ chegar a esse ponto. Vai daí que essas expressões que dão título a esse texto me sugerem essa lembrança e apontam um caminho. Explico melhor: olhando por mim, com algumas terapias e vivências na bagagem e, volta e meia, ainda reagindo por não ser mais liso. Ou seja, me deixando pegar por palavras, provocações, críticas, e mesmo por coisas e situações sobre as quais não tenho controle nem influência ou, pior ainda, coisas e situações que não tem a importância que me vejo dando a elas.
Tudo e todos têm uma grau de importância, um peso, uma dimensão na vida, e a isso se responde de acordo com a escala de valores individual, em relação ao momento, considerando consequências e efeitos. Sim, tudo tem sua importância, porém há às vezes a tendência de aumentar muito esse grau de importância. Se dá excessivo espaço e atenção a algo que, olhado por outro ângulo, revisto de forma relativizada, pode afinal se revelar bem menor, sem tanta relevância.
Relacionamentos, tanto pessoais quanto profissionais, muitas vezes são abalados e até desfeitos por fatos e palavras, situações e motivos que, revisitados mais tarde, se mostram sem aquela importância que receberam. Daí retomo o tal ‘sejamos mais lisos’, dito pela facilitadora há anos atrás. Quando se adquire mais noção do que realmente importa para nós em cada uma das situações, há condições de compreender, relevar, esfriar a cabeça e os ânimos e simplesmente tratar cada coisa no tamanho que tem, sem se enganchar tão facilmente.
Quando ouço essas expressões: “Segue o baile” ou “Vida que segue”, ditas de modo a se perceber uma compreensão e a elaboração das ocorrências é que, de fato, vejo alguém sendo mais liso. Alguém que percebeu os limites do alcance de sua atuação, de sua influência. Não se trata de ‘deixar pra lá’, ignorar ou apertar o famoso botão “F”. Antes, é chegar a usar essas expressões como alguém que entendeu que não há nada a fazer, a não ser compreender, incorporar o fato ou momento e seguir em frente, usando tempo, atenção e energia para coisas que valem mais à pena e que podem trazer novos e melhores frutos. Tenho pessoalmente feito um esforço quanto a isso, e também já tenho conseguido agir assim em mais situações. E, para falar a verdade, é bem mais leve e agradável me sentir ‘mais liso’!
O Ser do humano me fascina.
Fernando Polignano atua na área de Desenvolvimento Humano, de Estratégias de Liderança e Relacionamento.
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