“NO OLHO DO FURACÃO”
- Fernando Polignano
- 17 de fev. de 2022
- 3 min de leitura
Na hora em que a coisa fica feia, quando o ‘bicho pega’, aonde você se coloca? Qual a sua resposta às situações? Explica por que não pode agir, ou propõe uma ação? Na hora do ‘vamos ver’, é que se vê quem a gente é ‘na real’.

Pelo WhatsApp, recebo a foto da página de um livro de poemas. O autor é um amigo querido, ele é psiquiatra, folclorista e, claro, poeta. E o poema me inspira para tratar de um tema que nos toca a todos, em especial pelo momento presente que vivemos. O poema se chama
“Linhas de Força”
Onde está a tua força?
Nas linhas demarcadas da mão
Onde rios correm paralelos,
Ou nas linhas indivisas,
Onde se sobrepõem cabeça e coração?
Onde está a tua força?
No olho alheio
Ou no olho do teu próprio furacão?
Certamente, conhecemos e temos alguma ideia sobre o significado da expressão ‘estar no olho do furacão’. Há uma impressão de que aquele lugar é uma região de alto risco, onde quem ali se encontra está em grande perigo. Tecnicamente, não é bem assim, e alguns aspectos nos permitem propor uma analogia que nos leve à reflexão sobre como nós nos comportamos quando o furacão se apresenta.
A região chamada de ‘olho’, ocorre em determinados tipos de furacão ou ciclones e se caracteriza, grosseiramente falando, em uma área de formato circular com um diâmetro que varia entre 20 e 60km, tendo em conta que a área total de abrangência de um furacão grau 4, por exemplo, pode alcançar entre 200 e 400km de diâmetro. Na periferia desta área, os ventos chegam a 250km por hora ou mais. Porém, no ‘olho’, as condições são muito brandas, a pressão atmosférica é bem mais baixa, há calmaria. É até possível ver céu claro!
Traçando um paralelo, é um bom lugar para se estar na hora em que o furacão se manifesta em sua passagem devastadora. Nos momentos difíceis, de crise, de grandes tormentas que atravessamos no viver, estar na periferia é colocar-se no lugar de vitimado, na posição de acreditar não poder fazer nada, a não ser deixar-se arrastar pelos ventos. É verdade, não se pode ‘fazer algo’ contra adversidades que não dependem de nossa vontade, e nem estão sob alguma influência ou controle de nossa parte.
Mas, seguindo na analogia, buscar posicionar-se no ‘olho do furacão’ é uma escolha possível. Encontrar em si a capacidade de manter-se centrado e vendo céu claro, é uma possibilidade, embora todo o entorno seja de risco e perigo. Aliás, nas situações reais de furacões, essa zona de calmaria é sempre motivo de alerta, pois há pessoas que acreditam que tudo passou, mas não é assim. Há que se ter orientação e sinais claros de que realmente a tormenta acabou.
No nosso viver, em situações como as que enfrentamos hoje com múltiplos fatores de risco, seja por conta de uma pandemia ou da forma como se reage e trata as questões envolvidas, é desejável buscar ‘o olho do furacão’. Ali posicionar-se com calma e clareza, porque este é o lugar do protagonista, que é aquele que conduz a ação. Desde esse lugar se pode avaliar quais são as alternativas para agir e se dirigir, depois que o furacão passar. O lugar do protagonista é o da pessoa que se inclui na situação como um agente, uma força que mobiliza recursos, conhecimento e sua experiência pessoal para contribuir com soluções, com ações positivas. No momento em que o furacão se manifesta, aonde queremos estar hoje? No lugar da vítima, sendo arrastados e explicando o porquê não podemos agir, ou nos colocando como protagonistas, dentro do nosso âmbito de ação na vida?
O Ser do humano me fascina.
Fernando Polignano atua na área de Desenvolvimento Humano, de Estratégias de Liderança e Relacionamento.
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